A 11 de abril assinalou-se, um pouco por todo o mundo, o «International TableTop Day», iniciativa que, em 2014, dinamizou mais de três mil eventos em cerca de 80 países dos sete continentes. Como não poderia deixar de ser, o Grupo de Jogos de Tabuleiro de São Brás de Alportel aproveitou a data para convidar miúdos e graúdos para descobrirem um pouco mais sobre este fascinante mundo que, apesar de já contar com alguns séculos de existência, quase desapareceu com o fenómeno dos videojogos. Ao fim de uma tarde bastante animada, o encontro superou todas as expectativas, os recordes de participação foram batidos e provou-se mais uma vez que, apesar do fascínio que as consolas exercem sobre os mais novos, os jogos de tabuleiros estão vivos e recomendam-se.
Eu sou do tempo do ZX Spectrum 48K, ou seja, tinha que esperar alguns minutos a ouvir uma cassete a fazer uma guincharia desgraçada no gravador até poder começar a jogar na velhinha televisão da sala de jantar, isto se as pilhas não fraquejassem e a operação desse erro, para desespero dum jovem gaiato. Depois, era desfrutar das «maravilhas» do Chuckie Egg, Target Renegade, Commando, Jackal ou Emily Hughes Soccer, uns a preto e branco, outros a cores esbatidas, com muitos pixéis à mistura. Se passasse de nível, lá punha a cassete outra vez a andar e rezava para não dar erro.
Recuando à minha meninice, confesso que se aguentava bem este martírio se estivesse a jogar com outros amigos mas, em casa, sozinho, muitas vezes preferia entreter-me com o Monopólio, Risco, Damas, Dominó ou com um baralho de cartas. Depois, lá apareceu o ZX Spectrum 128, o Commodore Amiga, a Mega Drive, a Sega Saturn e, admito, os jogos de tabuleiro ficaram esquecidos na estante da despensa. Os anos passaram, voltei-me para os jogos de PC e ainda sucumbi à tentação da Playstation 2 e da Xbox. As obrigações profissionais ditaram depois o abandono de todo o tipo de jogos, que retomei mais recentemente com a gigantesca oferta disponível para os smartphones. E, lamento dizer, os poucos jogos de tabuleiro que tinha enquanto miúdo, não me acompanharam na viagem de Lisboa para o Algarve. Uma experiência pessoal que, ou muito engano, deve ser semelhante à de muitos milhares de portugueses.
O certo é que os jogos de tabuleiros já andam por cá há mais tempo do que se possa pensar e basta dizer que, em Alcoutim, foi descoberta uma coleção que remonta à presença islâmica no Algarve. Contudo, o fenómeno das consolas e os jogos de topo dos computadores pessoais de última geração têm levado a uma queda de interesse da parte dos mais novos, como aconteceu comigo próprio. Não admira, por isso, que deixassem de ocupar um lugar de destaque nas salas de estar e fossem remetidos para caixas de «velharias» nos sótãos.
Mas se há coisa que a História nos diz é que tudo acontece em ciclos e a verdade é que os jogos de consola, PC’s ou telemóveis, normalmente jogados a solo, não substituem o convívio e a dinâmica de grupo dos jogos de tabuleiros, sejam os mais tradicionais como as damas, xadrez, bridge, Monopólio, Jogo da Glória ou Risco, ou os mais modernos, casos dos mediáticos «Dungeons & Dragons» e «World of Warcraft». E o resultado é que, de um momento para o outro, os grupos, uns informais, outros inseridos em associações culturais e recreativas, começaram a crescer em Portugal, organizando diversos encontros semanais ou mensais. Da mesma forma, como o mercado é dinâmico, surgiram empresas especialmente dedicadas à edição e comercialização de jogos de tabuleiros, uns importados do estrangeiro, outros criados mesmo em Portugal.