A Biblioteca Municipal Sophia de Mello Breyner Andresen, em Loulé, recebe, no próximo sábado, 28 de março, pelas 15h, a Conferência «A Arquitetura de Manuel Laginha ao serviço da paz», por Carlos Delgado Pinto.
Nascido em Loulé, a 1919, Manuel Laginha começou por estudar Arquitetura na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. Entre 1940 e 45 estudou na Escola de Belas Artes do Porto, com a Bolsa de Estudo Ventura Terra, tendo-se diplomado em 1947, com 18 valores. De 1948 a 1952, foi funcionário da Câmara Municipal de Lisboa, na repartição de Arquitetura e, entre 1952 e 1985, da Direcção-Geral dos Serviços de Urbanização, onde ingressou por concurso público.
Foi membro da Direção do Sindicato Nacional dos Arquitetos (atualmente Associação dos Arquitetos Portugueses) no biénio 1952-54 e sócio da secção portuguesa da U.I.A. Em 1953, enquanto funcionário da D.G.S.U., empreendeu uma viagem de estudo à Grã-Bretanha, Países Baixos, Bélgica e França, da qual foi publicado um relatório quatro anos depois. Em 1957, frequentou o curso de urbanismo do University College of London, como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, e estagiou no Departamento de Arquitetura do London County Council.
Desenvolveu ampla atividade arquitetónica em Lisboa, deixando intervenções marcantes designadamente nos Olivais-Sul e num conjunto habitacional na frente Norte da Av. Estados Unidos da América (entre as avenidas do Rio de Janeiro e Almirante Gago Coutinho), nos anos de 1955-1956, de colaboração com os arquitetos Pedro Cid e João Vasconcelos – Prémio Municipal de Arquitetura em 1957, em Carcavelos, em Setúbal, no Seixal e em Milão (Instituto Luso-Fármaco). Foi também o autor dos planos de Urbanização de Campo Maior, Vila Verde de Ficalho, Praia de Quarteira, Loulé, Lagoa de Santo André, Alvalade, Melides e Termas de Monfortinho. São também de sua autoria o Plano Sub-Regional do Sector XI do Algarve (Cacela/Vila Real de Santo António), em 1969, e do Plano da Região de Corimba – Ilha do Mussulo (Angola), em 1976. Participou em congressos e conferências em Portugal, Finlândia, Holanda, França e Luxemburgo.
A partir de 1963 começou a prestar assistência urbanística na Junta Distrital de Setúbal e constituiu, com Arnaldo Araújo e Frederico George, uma das três equipas finalistas do concurso para o projeto da sede e Museu da Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa), em 1959. Em Loulé, «criou escola» tendo os seus projetos sido imitados por engenheiros e projetistas. Ainda hoje são obras de referência a Casa da Primeira Infância (vulgo Casa da Primeira Infância ou Creche), o edifício n.º 10 da Praça da República, o prédio n.º 36 da Av. Marçal Pacheco, a casa Laginha Ramos, na Rua David Teixeira, n.º 121, e a Alfaiataria York, para além de moradias e edifícios em Quarteira e Olhos de Água. Projetou ainda no Algarve o Centro de Assistência de Olhão, de colaboração com Rogério Buridant Martins e a Casa de Paderne, Albufeira (c. 1948).
A sua atividade profissional - cujos primeiros anos coincidiram com a difusão alargada da arquitetura ligada ao Movimento Moderno em Portugal - pautou-se por uma adoção criteriosa dos princípios fundadores deste movimento, fruto de uma sólida formação constantemente informada pela situação internacional. Esses mesmos princípios foram utilizados como instrumentos fundamentais na reação à arquitetura oficial de cariz nacionalista ainda vigente. Faleceu em 1985 e a Câmara Municipal de Loulé deu o seu nome, em 2008, a uma avenida da cidade.