No passado dia 23 de janeiro, mais de 350 pessoas marcaram presença no Palácio de Congressos do Algarve, em Albufeira, para assistir ao II Encontro de Responsabilidade Social. O evento juntou as principais entidades públicas e privadas a nível nacional com intervenção na área e, ao longo de quatro painéis de debate, foram discutidas ideias, apresentados testemunhos e reflexões sobre o caminho a seguir para que se evolua do assistencialismo à sustentabilidade do terceiro setor.
A provedora da Santa Casa da Misericórdia de Albufeira, Patrícia Seromenho, deu início ao evento explicando que foi pensado para uma reflexão conjunta sobre o que é a Responsabilidade Social e para encontrar formas de tornar o terceiro setor sustentável, “trabalhando em parceria com todos os intervenientes, desde o Estado às autarquias, às instituições públicas e às empresas privadas”. “É essencial que as IPSS façam uma boa gestão dos seus fundos e que recorram às empresas privadas para obter financiamento e, consequentemente, sustentabilidade”, alertou, por sua vez, o presidente da Câmara Municipal de Albufeira, Carlos Silva e Sousa, que lançou o repto para que se procure ir mais além do mero assistencialismo e que se contribua ativamente para a sociedade.
A importância do desenvolvimento de parcerias entre empresas e instituições foi o fio condutor do Encontro, que contou com o testemunho de diversos empresários com uma forte presença na atividade social do país.
“A nossa preocupação não é apenas com o bem-estar dos clientes, mas também com os meios e recursos envolventes ao nosso empreendimento turístico”, salientou Carlos Leal, diretor geral do Pine Cliffs Resort, unidade hoteleira localizada em Albufeira, e que representa uma das maiores entidades empregadoras do concelho.
“Defendemos uma política assente na sustentabilidade ambiental e na responsabilidade social, trabalhando em parceria com várias associações, instituições e com a comunidade local”, testemunhou o diretor hoteleiro, um dos oradores do primeiro painel do evento.
Com igual intervenção no primeiro painel, a diretora de Inovação Social da Fundação EDP, Margarida Pinto Correia, apresentou o conceito de «negócios sociais» e os principais constrangimentos e fatores de sucesso no desenvolvimento desta forma de atuação. Realçando que, apesar do Algarve e o Alentejo serem as duas regiões do país que apresentam menos candidaturas a projetos de apoio social daquela instituição, a nível nacional, Portugal encontra-se na vanguarda europeia com iniciativas inovadoras de empreendedorismo social. Exemplo disso é o Instituto de Empreendedorismo Social - Social Business School, a primeira escola de negócios focada na Inovação e Empreendedorismo Social em Portugal.
O IES foi representado no Encontro por Nuno Frazão, atual Coordenador do Laboratório de Inovação Social e Coordenador da Área de Desenvolvimento e Negócios do referido Instituto, que apresentou as áreas de intervenção Instituto que percorreu caminho dedicado à inovação social na criação de soluções de negócio sustentáveis, oferecendo um portefólio de formação, investigação e consultoria que dá resposta a empreendedores sociais, organizações sociais, setor público, empresas, fundações e universidades, de forma a inspirar, formar, apoiar e ligar organizações e pessoas, de todos os setores de uma economia convergente. E Joaquim Caetano, responsável da área de Voluntariado Corporativo da Fundação Montepio, realçou as linhas base do investimento social com vista à sustentabilidade da intervenção, dando enfase à rede de parcerias, envolvimento dos beneficiários e à necessidade permanente de avaliação.
O terceiro painel do encontro, moderado pelo presidente da Fundação «O Século», Emanuel Martins, destacou a mais-valia da intervenção da área empresarial-social como meio de apoio e complementaridade na atuação das instituições. O projeto «As Marias» da Fundação EDP, a Plataforma «HereWeGo» de turismo inclusivo e a «Comfort Keepers», foram os casos de sucesso apresentados. A introduzir o momento de reflexões, Manuel Lemos, presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), parceiro do Encontro, fez saber que o Quadro Comunitário de Apoio contempla um programa específico direcionado às instituições da Economia Social, que irá comparticipar uma verba superior a dois milhões de euros.
“Este é um instrumento de extrema importância para as nossas instituições nos próximos anos”, destacou.
O presidente da UMP alertou ainda para a importância do funcionamento em rede das instituições que prestam apoio social, a fim de garantirem a sustentabilidade futura das suas ações. Manuel Lemos defendeu que, para a sustentabilidade de todos aqueles que têm um trabalho social, "é necessário que pensem também na distribuição de serviços, para evitar a saturação do mercado com muitos a oferecer os mesmos produtos e serviços”. Em jeito de conclusão, Carlos Silva e Sousa frisou que “o papel das autarquias na questão social é entendido, cada vez mais, como prioritário pela sua urgência e importância, já que estamos a falar de pessoas desfavorecidas”.
Carlos Silva e Sousa divulgou que o Município de Albufeira tem um conjunto de medidas de apoio à população mais carenciada, que vai desde as bolsas de estudo ao apoio ao arrendamento ou à teleassistência a idosos, para além das parcerias com as IPSS locais que atuam ao nível da alimentação, roupa, material escolar, transporte, entre muitas outras.
O painel de encerramento do evento contou também com a intervenção de Alexandra Rebelo, subdiretora do Banco de Inovação Social e Ofélia Ramos, diretora do Centro Distrital da Segurança Social de Faro.
“O grande desafio do terceiro setor é arranjar outras formas de financiamento para além dos fundos públicos, que garantam a sua sustentabilidade económica”, explicou Ofélia Ramos, adiantando que a Segurança Social financia mensalmente o terceiro setor com cerca de 4,5 milhões de euros no distrito de Faro, mas que
“é fundamental que todas as entidades ligadas à Economia Social, cujo objetivo passe pela solidariedade e desenvolvimento integrado das comunidades, trabalhem em rede e em parceria entre público e privado, para que possam atingir os objetivos que os unem a todos”.