Os diretores de seis dos principais jornais online do Algarve - Elisabete Rodrigues (Sul Informação), Fernando Reis (Jornal do Algarve), Hélder Nunes (Barlavento), Henrique Dias Freire (Postal do Algarve) e Jorge Matos Dias (PlanetAlgarve) - foram os convidados da primeira sessão do Ciclo «A Comunicação por cá», iniciativa promovida pela Comissão Concelhia dos 40 anos do 25 de Abril, que decorreu na passada sexta-feira, na sede do Ateneu, em Loulé. Numa região onde “empresarialmente a comunicação é inconsistente”, Carlos Albino, presidente da Comissão, falou desta área como o “primeiro problema que o Algarve tem”, daí a integração da temática no programa comemorativo do 40º aniversário do 25 de Abril que se estende até ao final do ano. “Os jornais impressos estão quase a morrer, os que os publicam são resistentes. E as empresas que exploram o Algarve, bem como as instituições, são responsáveis por esta situação, pela falta de apoios”, sublinhou Carlos Albino, também ele jornalista.
Neste debate em torno dos jornais online, dos desafios que se colocam no presente e perspetivas futuras, a sustentabilidade financeira foi, de resto, a principal dificuldade apontado pelos oradores para levarem por diante uma informação de qualidade na região. Se no caso das edições impressas a publicidade é um investimento cada vez menor por parte dos anunciantes, em relação aos jornais digitais “a grande dificuldade, não só em Portugal, é como tornar a comunicação online num negócio”, como referiu a diretora do Sul Informação, jornal exclusivamente online que surgiu há cerca de dois anos e meio. Também Henrique Dias Freire considerou que esta é uma questão que se coloca a nível mundial. “Ainda não há um modelo de negócio bem definido”. Se no contexto nacional tem havido nos últimos tempos um forte investimento nas edições online por parte dos principais títulos como o Expresso ou o Público, ao nível local, o diretor do Postal do Algarve lembra que as dimensões são muito mais reduzidas em termos de pessoa, o que constitui um entrave à aposta forte na informação digital.
Fernando Reis, do Jornal do Algarve, publicação que encontrou no online um complemento da edição impressa face à “ameaça da concorrência”, considera que “a situação económica do país acarreta uma grande dificuldade para ter o que alimenta os jornais: a publicidade”. Por outro lado, o diretor da publicação sedeada em Vila Real de Santo António é da opinião de que as empresas de construção civil, turismo ou hotelaria, que durante anos sustentaram a economia regional, “nunca encontraram nos media regionais um local para se promoverem”, enquanto que “as autarquias foram aguentando os jornais por algum tempo até que tiveram de ‘fechar a torneira’”. Por seu turno, o diretor do Barlavento é da opinião que os jornais online “têm que ser pagos”, uma vez que a publicidade online não é suficiente para pagar os custos. “O caminho passa por verificar como as pessoas vão pagar”, disse Hélder Nunes. Já Jorge Matos Dias, considerou que “é contraproducente que os online seja pagos pelos visitantes”.
Os seis intervenientes neste debate foram unânimes em considerar que, no futuro, o online não irá acabar com o tradicional jornal em papel, antes pelo contrário, serão o complemento um do outro. Se nos casos do Barlavento, Jornal do Algarve ou Postal do Algarve a edição impressão conta já com vários anos e o online surgiu como um complemento, no caso do Sul Informação, exclusivamente digital, a ideia é que no futuro a equipa venha a criar também um jornal em papel. “Os jornais em papel não irão acabar mas terão, necessariamente, que ser diferentes em termos de conteúdos, formatos, públicos, etc..”, afirmou Elisabete Rodrigues. Nesse sentido, a diretora adiantou que a equipa do Sul Informação pretende lançar um jornal impresso, “patrocinado por uma grande empresa a nível nacional” com quem já mantêm negociações, que marcará pela diferença.
A ideia de Hélder Nunes é que os jornais de grande tiragem se especializem e aprofundem os conteúdos das edições online. Já os jornais regionais, de maior proximidade às pessoas, terão de saber qual o tipo de conteúdos que os leitores querem. Fernando Reis reafirma que a convivência entre as duas plataformas – digital e impressa – será o futuro dos jornais e que a extinção de muitos jornais em papel se deve mais à falta de viabilidade económica do que ao surgimento dos online. Também Henrique Dias Freire acredita na manutenção do tradicional jornal em papel, apesar de nos próximos anos se acentuarem as evoluções tecnológicas nas plataformas digitais. Os custos de impressão e distribuição, as dificuldades financeiras que são um obstáculo à contratação de mais jornalistas, a sustentabilidade dos projetos, as limitações à liberdade de imprensa face à pressão publicitária e a ética jornalística foram outras das matérias abordadas neste debate.